As formas arredondadas, as curvas e o ar moderno de Oscar Niemeyer cruzaram o oceano e chegaram até o Oriente Médio. Em 1962, o arquiteto desembarcava no norte do Líbano, mais precisamente em Trípoli, a segunda maior cidade do país. Após estudos e projetos, ali ficariam suas obras, em um complexo onde ocorreria a Feira Internacional Rashid Karami.
As obras não foram concluídas e ainda hoje persistem, com marcas das guerras, dos conflitos, do tempo e da tentativa de levar modernidade ao país, entre as décadas de 60 e 70.
As imagens destas obras inacabadas foram registradas pelo fotógrafo libanês Anthony Saroufim, que se destaca por trabalhos que relacionam a arquitetura e a fotografia. Com traços que se assemelham a Brasília ou às construções do Parque do Ibirapuera em São Paulo, os trabalhos do arquiteto em Trípoli, hoje em ruínas, ainda guardam um simbolismo de qual era o objetivo com o convite do arquiteto brasileiro, que havia acabado de construir Brasília, e que era o representante do modernismo e da possibilidade de progresso a partir da arquitetura.
DE ESPAÇO PARA FEIRA À BASE MILITAR
Em um espaço de 10 mil metros quadrados, os trabalhos do brasileiro não foram finalizados devido à eclosão da guerra civil em 1975. O espaço então passou de centro de exposições a uma base militar, que foi utilizada por diferentes milícias, e serviu inclusive para depósito de armas do Exército da Síria durante os conflitos.
O início do projeto mostrava números grandiosos para aquele espaço, que ocuparia no total uma área de um milhão de metros quadrados, com 15 obras, além de jardins e boulevards.
Niemeyer tinha objetivos um pouco diferentes para o que se desenhou posteriormente na cidade portuária de Trípoli. Ele projetava o espaço mais próximo ao Mar Mediterrâneo, o que não foi concretizado. Hoje, inclusive, são apontadas falhas no projeto.
POR QUE NIEMEYER?
O arquiteto representava o modernismo, o técnico unido à beleza das formas e às características da natureza. Para um país que vinha de um período, em anos anteriores, de investimentos estrangeiros e crescimento econômico, os trabalhos de Niemeyer eram a ideia de progresso e futuro. A cidade de Trípoli estava começando a se desenvolvida, para além da capital do país.
A própria posição política de Niemeyer e o contexto histórico do período no Líbano influenciaram o convite. Oscar Niemeyer aceitou, mesmo em meio a outros projetos que desenvolvia na época.
O PRESENTE E FUTURO DAS OBRAS INACABADAS DE NIEMEYER
O espaço, “parado no tempo”, está fechado ao público. Há divergências entre os moradores da cidade quanto à reconstrução ou não na região, o que muitos consideram um “elefante branco” – vale saber que Niemeyer não é conhecido por todos de lá. Em meio às obras deterioradas e marcas dos conflitos que ali aconteceram, ainda restam esperanças, apesar de incertas, de uma revitalização do local.
A instabilidade política no país, vizinho a Síria, é um dos principais motivos. Já houve diferentes tentativas de revitalização que, apesar de tudo, recebe cuidados principalmente em seus jardins. Uma delas foi de uma empresa norte-americana, da Califórnia, que propunha um parque temático. Outro exemplo aconteceu há pouco mais de dez anos, quando a ONG Fundo Mundial de Monumentos considerou a Feira Intercional Rashid Karami como uma das cem esculturas mais ameaçadas do mundo.
Projetos de revitalização, na época, foram bastante divulgados para a região, mas nada foi concretizado. A situação política local foi o principal motivo.
Sempre esperamos a preservação ou revitalização de uma obra arquitetônica. Mas neste caso, a esperança passa a ser maior. Não apenas por ser o trabalho do arquiteto brasileiro, mas pelo simbolismo do progresso e futuro de uma região que enfrenta conflitos há anos. Espera-se que as obras retomem o objetivo inicial, e em tempos novos, e que estes sejam de paz.
Imagens: Anthony Saroufim. Referências: Archdaily, Folha de São Paulo, O Globo, Casa Claudia
Nenhum comentário:
Postar um comentário