Este projeto busca questionar certas noções sobre o viver e como nos relacionamos com o meio ambiente. O seu desenho enquadra um segmento da paisagem para o transformar em um refúgio, dando especial ênfase aos elementos estruturais que definem os limites entre o que se constrói e o que é herdado pela natureza. A primeira aproximação ao local, localizado em um condomínio privado na costa centro-norte do Chile, foi mediada por abundante vegetação selvagem e por uma série de aglomerados rochosos que se tocam pontualmente, gerando vazios de diferentes tamanhos e formas entre eles. Esta imagem foi a inspiração para um projeto que transformou aquelas pedras em volumes habitáveis e os vazios nos diferentes pátios que fazem parte do projeto. A Casa Las Vizcachas é a segunda casa de um homem adulto que espera que no futuro se torne sua residência permanente. Isso determinou um programa específico distribuído em 3 blocos. O maior abriga o quarto principal com banheiro privativo e, de maneira integrada, a sala de estar, de jantar e a cozinha. O segundo bloco destina-se ao quarto da filha do proprietário, um quarto de hóspedes e um grande banheiro. Ambos os elementos se tocam tangencialmente, mas só é possível passar de um para o outro através dos terraços. Posteriormente, foi construído um terceiro volume ligeiramente tombado para abrigar uma pequena academia. O acesso é definido por uma rampa e um pequeno pátio, configurado por uma parede de concreto aparente. Ao atravessar esta área, é possível ver o pátio central. Este espaço é o núcleo de todo o projeto e possui diferentes elementos que ajudam a melhorar a experiência de viver no exterior. Uma série de passarelas unem os volumes e configuram diferentes terraços, complementados por uma elipse de concreto que funciona como uma lareira e uma piscina de borda infinita que, em vez de se estender em direção ao mar, está voltada para o pátio, valorizando sua posição. Todo este espaço é atravessado por uma viga de madeira laminada de 21 metros de comprimento que, além de sustentar toda a estrutura da cobertura do volume principal, emoldura uma pequena parte da paisagem. Embora seja uma casa de praia em termos formais, afasta-se desta tipologia voltando-se sobre si mesma. Estabelece relações visuais tanto com o mar como com a natureza que o rodeia, mas não se abre totalmente ao seu ambiente natural. Isso gera uma experiência diferente, que não está ligada a literalmente sentar à beira-mar, mas oferece a possibilidade de curtir a praia. Todas as atividades que podem ser realizadas em uma segunda residência estão sujeitas ao pátio, onde você pode tomar sol, curtir a piscina ou compartilhar um incrível pôr do sol com os amigos. A casa é construída sobre uma laje de concreto que se eleva do solo. Além disso, a casa foi projetada 100% em madeira laminada. Todos os elementos estruturais e paredes internas foram pré-fabricados em uma fábrica localizada a 800 km do local e transportados por caminhão. Essa estratégia economizou tempo na construção e minimizou o impacto do processo no terreno. A estrutura principal é em pinho laminado, enquanto o revestimento externo é em madeira Raulí. Os interiores, por sua vez, são revestidos em Coigüe (outro tipo de madeira da região), uma escolha baseada na intenção de criar espaços translúcidos, conectados com o ambiente e promovendo o relaxamento típico de uma paisagem como esta, mas apelando para uma linguagem própria que se afasta de texturas e itens usuais. A fachada envidraçada que divide as áreas sociais com o pátio central tem 9 metros de comprimento e pode ser totalmente aberta, gerando um único grande ambiente em que os limites de cada área parecem se confundir. No entanto, graças à viga superior, à parede norte concebida como treliça de madeira e outros elementos estruturais, o espaço é contido e protegido. A natureza é uma dádiva e algo que sempre esteve presente e, neste cenário, a casa procura proporcionar um espaço que gere uma sensação de refúgio no meio desta vastidão gigantesca e incontida que é o oceano. O projeto de paisagismo também segue essa lógica e consistiu basicamente em reconhecer as diferentes espécies nativas que crescem nesta parte do país e gerar um sistema de irrigação eficiente que lhes permitisse fortalecer-se já que o vento aqui pode ser brutal durante a maior parte do ano. Dentro do perímetro da casa, uma concha branca foi usada como parte da paisagem, bem como uma série de rochas que foram extraídas do local e que agora fazem parte do projeto como uma reminiscência da primeira abordagem ao local, e que através da arquitetura foram se transformando em refúgio.