arquitetar

"Procurar as orgânicas,os movimentos espontâneos,isto é, compreender a natureza para depois demarcar na geografia.A construção também tem que ser uma desconstrução.É necessário reflectir e inflectir.Procurar estar na essência da geometria.Resolver, encontrar o arco, ligar dois pontos, enfrentar um projeto e uma ideia, empreender uma lógica, um mundo."

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Jeito Brasileiro de Morar; Hábitos e Costumes



ilustrações: Debret
Texto: Marlem Vilela

Se levarmos em consideração os hábitos e costumes da vida doméstica brasileira, a independência do Brasil não aconteceu em 1822, mais em 1808, com a mudança da corte portuguesa para o Rio de Janeiro. A família real veio acompanhada de mais de 10 mil pessoas, que iniciariam aqui a possibilidade de recriar um novo estilo e novos hábitos de habitar; recriar suas casas, recolocando em seu cotidiano uma forma européia de adaptar ao novo continente. Em conseqüência desses fatos, mantemos até hoje os traços dessa herança.
Com todas as intervenções dessa “Trupe Imperial”, a cara da cidade, o cotidiano das famílias , a casa brasileira mudaria para sempre.
Ao desembarcar no Rio de Janeiro, após uma longa viajem de Salvador, Dom João se deparou com uma cidade tosca, de arquiteturas simples, cercada de pântanos e mangues, ruazinhas estreitas lajeadas de pedra, esgoto a céu aberto. Erguidas com barro ou pedra as construções eram muito modestas e dividiam espaços com os conventos e igrejas , onde a decoração era mais elaborada com trabalho de talha.
Gente de hábitos modestos e simples povoavam aquele lugar. As mulheres dos colonos viviam reclusas , suas atividades se resumiam ao serviços domésticos. Não havia vida social.”Vem do período colonial o hábito das mulheres ficarem nas janelas, um hábito que persiste até hoje nas cidades pequenas”. A partir desse encontro com a cidade, Dom João tomaria providências imediatas para a espera da Família real, as casas ganhariam cores novas e novas fachadas, o espaço urbano teria que se adaptar para as novas carruagens, tudo para dar á cidade o aspecto de Capital do Império. Contudo dá-se inicio a um novo ritmo á cidade, a partir de 1808 e 1809 nada menos que 100 empresas se estabeleceriam no Rio de Janeiro fazendo proliferar ali novos ofícios.
Na bagagem da corte vieram os primeiros móveis e objetos para acomodar vários novos hábitos.
Armários em Jacarandá, guarda-louças, papeleiras, cristaleiras, Candelabros e lustres de cristais franceses. Então,“Surge a Sala de jantar e a sala de visita – Os primeiros ambientes que seriam supostamente planejados.
Os estilos se sucedem: começa com o neoclassicismo - que inclui o sheraton brasileiro (período de Dona Maria I) e o império brasileiro -, seguido pelo neo-rococó (ou Luís Felipe), junto com o hibridismo brasileiro, depois vem o ecletismo brasileiro (neogótico, neobarroco). Há inúmeras manifestações artísticas, todas buscando reviver os estilos antigos, numa grande mescla de influências. O que sempre marcou a casa brasileira, no entanto, desde os primórdios até o modernismo de Niemeyer, foi a austeridade no jeito de morar. O mobiliário era sinal de poder e de atualização com o novo estilo de vida.
A vida social, antes restrita às festas religiosas, se torna efervescente: acontecem saraus, as festas oficiais da corte, o Teatro São João é inaugurado pelo príncipe regente e nele têm lugar noites de gala. "Isso exigiu que homens e mulheres tivessem roupas e adereços de melhor qualidade".. A cidade recebe uma verdadeira avalanche de costureiras francesas e alfaiates ingleses. Os cabeleireiros franceses fazem com que as mulheres comecem a cuidar das melenas, que eram enfeitadas com jóias, à maneira européia.
A moda, vinda de Portugal, é de inspiração francesa ! .
Apesar de todo o rebuliço e da velocidade com que se adotaram modismos e novos estilos, a sofisticação veio gradualmente. Quando dizemos que a sociedade se sofisticou é porque parou de comer com a mão para comer com o talher, trocou o prato de barro pelo prato de porcelana, a esteira pela cama. Foi o início de um processo que daí em diante não se deteve mais. Mas a verdadeira sofisticação, da forma como a entendemos modernamente, só se implantou bem depois, no fim do século 19.
A partir daí as primeiras décadas do século XX, são então marcadas por uma intensa circulação de objetos importados e mudanças na construção de residências. Influenciadas por um discurso governista que buscava implantar a modernização do espaço urbano, famílias abastadas procuram aprimorar seus espaços domésticos com elegância e adquirir mobiliário luxuoso, louças de porcelana e de cristal. Desejos de se integrar a uma sociedade burguesa novamente em formação, os habitantes buscavam, por meio desses bens e de novos padrões de moradia, assimilar práticas culturais europeizadas, herança de um período
monárquico que se aderiu de vez nos nossos hábitos e determinou a nossa cultura social.

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