A Casa Cavalcante foi construída no centro de uma área de 266 hectares, adjacente ao Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros que abriga um dos biomas mais importantes do mundo: o cerrado. Por isso, a intenção de minimizar o impacto da edificação no seu entorno norteou todo o processo de projeto. A limitada qualificação de mão-de-obra local, a enorme dificuldade de acesso ao terreno, o clima extremamente quente da região e o orçamento limitado para a construção foram os fatores que definiram sua forma e materialidade.
Definimos o processo de construção em duas etapas. A primeira delas utilizou elementos pré-fabricados remotamente e montados no canteiro, enquanto a segunda utilizou majoritariamente a mão-de-obra artesanal local. Optamos por erguer primeiro a parte “semi-industrializada” da obra: a cobertura. Sua macroestrutura é composta por uma sequência modular de perfis-caixa metálicos e coberta por telhas termoacústicas. Dessa forma, pudemos fornecer sombra aos trabalhadores e protegê-los do sol intenso enquanto eles trabalhavam na segunda fase da obra, que utilizou processos artesanais de construção.
O tamanho-padrão da telha que especificamos foi o gerador da modulação estrutural da casa e da inclinação do telhado. As medidas e inclinações foram definidas para que não houvesse corte de peças durante montagem, o que minimizaria a possibilidade de erros. O uso do beiral prolongado cria uma espaçosa área perimetral à casa que serve como circulação entre os cômodos e protege a casa da incidência direta do sol nos momentos mais quentes do dia. A circulação pelo lado “de fora” propicia o contato constante do morador com a paisagem ao redor.
Todos os ambientes têm iluminação e ventilação naturais. Além disso, os ambientes de longa permanência (quartos, cozinha e sala) também possuem ventilação cruzada constante e são protegidos da incidência direta do sol pelo brise com toras de eucalipto natural. Além de ser repelente de insetos, o eucalipto é uma árvore de fácil cultivo. A fachada nascente da residência tem uma faixa mais estreita de proteção, enquanto a fachada voltada para o sol poente tem quase a totalidade da superfície vertical protegida por esse sistema de sombreamento.
As paredes perimetrais foram construídas com tijolos de adobe feitos no local com barro da região e as internas foram erguidas com blocos tradicionais de 8 furos para propiciar a instalação das tubulações elétricas e hidráulicas, visto que as paredes de adobe não conseguem embutir tubulação.
A casa é levantada do solo por duas razões: para evitar a subida de animais rastejantes e para proteger as paredes de adobe contra o afloramento de água em estações de alto índice pluviométrico.
Situada no cerrado, um bioma onde queimadas naturais ocorrem regularmente, qualquer edificação precisa do ‘aceiro’, uma espécie de cinturão onde há supressão de forração e espécies arbóreas de pequeno porte. A ausência de plantas ao redor da casa é, portanto, parte da estratégia de proteção contra incêndios.
Toda a energia elétrica da casa é fotovoltaica. Ela é produzida por um sistema “off grid”, através de placas solares instaladas em uma área ligeiramente afastada.
Fotografias: Joana França
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